sexta-feira, 15 de maio de 2009

O Futuro é agora ou mais daqui a um bocadinho?

Caros amigos: Um amigo e companheiro de movimento, o Nelson, pediu a minha opinião acerca do facto de ser passivel de haver uma mudança pacífica do sistema monetário para o sistema de recursos. Isto é, do sistema da escassez para o da abundância. Tomei a liberdade de publicar aqui a minha resposta que acho ter obrigação de partilhar com todos. Mais uma vez agradeço os comentários.

"Olá, Nelson:

É com prazer que partilho contigo a minha opinião acerca do assunto que, e muito bem, te preocupa. Porém, antes quero dizer-te algo: tenho 47 anos, é verdade. Gosto de ser respeitado e respeito os outros por esse mesmo motivo. Respeito-te a ti. MAS NÃO É POR ISSO QUE TE TRATO POR VOCÊ! Quero dizer com isto algo muito simples: somos seres humanos que partilhamos o mesmo espaço (relativo) no universo. Numa sociedade pró-humana os conceitos do EU e dos OUTROS tende a desaparecer pois toda a sociedade funcionará em uníssono para um bem comum, o da humanidade. Assim, não tens de me tratar com deferência por ser mais velho ou porque não me conheces ou por qualuer motivo que seja. Eu também não te trato por você e, até poderias achar estranho se o fizesse.


Isto dito e ultrapassado vamos ao que interessa.

Amigo e companheiro: lamento não ter boas notícias para ti. Infelizmente o mundo, tal como é hoje, é corrupto. As pessoas são ensinadas a ser corruptas desde a nascença. “Se queres isto tens de fazer aquilo!” é o princípio da corrupção. Quero dizer com isto que esse modo de pensar e de vida está gravado na mente das pessoas (em geral) desde muito pequenas. Condicionadas a pensar dessa forma muito dificilmente pensarão de outra. Bom, com uma cultura literária e científica adequada qualquer pessoa pode colocar tudo e colocar-se em causa. É germen do método científico. Mas olha à tua volta. Que vês? Pessoas que são desincentivadas a estudar e a entrar no mercado de trabalho com a formação mínima. Pessoas que, uma vez no mercado do trabalho, são incentivadas a consumir e, logo, a endividar. Para quê? Esse estado de dívida (escassez) permanente é a “motivação” que precisas para continuar a trabalhar para ganhar cada vez menos e trabalhar mais horas para conseguir ter um patamar de sobrevivência aceitável. O problema que se põe é que lutar para sobreviver é o patamar de evolução em que o cidadão comum, em qualquer parte do mundo actual, se situa. O que nos coloca no mesmo nível dos nossos antepassados longínquos (neolítico). Mas, 10 000 anos depois, ainda nos encontramos no mesmo nível ou patamar de existência? E a ciência? E a tecnologia? E os milhares de anos se saberes (conhecimento) acumulados pela humanidade? Que se passa, afinal, se a ciência e a tecnologia não nos estão a ajudar? Antes pelo contrário. A ciência e a tecnologia estão a colocar em causa a nossa SOBREVIVÊNCIA. Substituem-nos com vantagens nos nossos postos de trabalho, criando cada vez mais desemprego e, consequentemente, mais ESCASSEZ!
Onde pretendo chegar com este raciocínio? Aqui: os nossos antepassados no neolítico viviam em estado permanente de escassez. Por isso encontraram formas de reduzir essa escassez desenvolvendo a agricultura e criando o próprio gado e caça. Foi esse estado de coisas que permitiu à espécie humana perdurar e crescer. Porém, havia homens que não dominavam essas matérias e viviam em escassez, dependendo das migrações da caça e da espontâneidade dos vegetais e frutos e chuva. E cobiçaram. Esses caçadores recolectores continuaram e contuinuam ainda hoje a dominar a sociedade. Com o tempo criaram formas de iludir os outros nas trocas comerciais cada vez mais elaboradas até chegarmos ao sistema monetário. Este sistema foi simplesmente uma invenção genial para perpectuar o clima de escassez. “Enquanto for escasso vais querer comprar o que eu tenho e eu vou lucrar com isso sem me esforçar muito”. Porém tem os dias contados. Mas já lá vamos. Enquanto viveres em estado de sobrevivência não consegues pensar em mais nada.

Isto é, os planos de existência evoluem naturalmente conforme o homem evolui. Se essa evolução não se dá os planos de existência não se alteram. Que quer isto dizer? Procura na net Abraham Maslow e Herzberg. Apesar de não concordar muito com Maslow ele define uma pirâmide hierárquica de necessidades humanas. A primeira coisa em que discordo é a posição que ocupa o Amor e Relacionamento. Ele vem depois da Estima e Realização Pessoal. Depois acho que a pirâmide não fica por aqui. Mas, enfim, para a época foi inovador e iluminador. Já Frederick Herzberg tem uma visão mais correcta das necessidades humanas dividindo-as em dois grandes componentes: o higiénico e o motivacional. Não me alongo mais (caso queiras saber mais vai à wikipedia e a http://www.pedrassoli.psc.br/psicologia/maslow.aspx e faz a pesquisas destes nomes). Só te quero dizer que, para Herzberg, o dinheiro não é um factor motivador (fantástico!). Adiante, de acordo com Maslow (e aí concordo com ele) as necessidades só se revelam de forma progressiva e hierárquica. Isto é, enquanto não satisfizeres as tuas necessidades fisiológicas (comida, tecto,...) não sobes o patamar existencial. Vives em função de garantir a tua sobrevivência e dos teus. Essa é a grande razão da perpetuação da escassez. Mantém-te num partamar baixo de existência e eu vou-te dando uns amendoins a troco de escravatura (dívida).
É aqui que reside a grande dificuldade de passar a mensagem. Para ti e para mim há a sensação de termos visto a luz. Porém, passar a mensagem e fazer com que outros vejam a luz é uma tarefa muito complicada e que exige um empenho muito grande. O que podes fazer é ir semeando. Utilizas o método socrático para que sejam as pessoas a chegar por elas às conclusões que queres que chegem (maiêutica). Mesmo assim desejo-te sorte. Falo por mim. Tenho puxado o assunto com várias pessoas, tenho passado o filme dizendo que depois falamos, mas as reacções ficam sempre aquém das expectativas. A questão é mesmo essa: não podemos criar expectativas. O processo nunca irá ser rápido e suave. Ir-se-ão passar várias coisas diferentes e em planos paralelos. Passo a explicar:

1- O sistema monetário vai acabar por colapsar por si. A classe média é o grande impulsionador do sistema monetário. Essa é que se pode endividadar e colocar o sistema em marcha. Acontece que a cegueira dos espertos e especuladores está a acabar com a classe média e a gerar cada vez mais pobreza (a escassez tem limites). Os pobres não se podem endividar. Passam fome. Podem é soblevar-se. O que irá acontecer. É uma questão de massa crítica. Menos classe média mais pobres. Deixa de haver endividamento e o sistema vai colapsar. Os pobres vão revoltar-se por ver meia duzia cada vez mais ricos. Estes vão fazer como o macaco na armadilha: agarram-se à banana, na cobiça, e ficam presos na sua própria estupidez;
2- Em paralelo vai-se passar o seguinte: aliás, já começou. Cada vez mais pessoas vão deixar de colaborar com o “establishment” e deixar de contribuir para ele e vão migrar para locais pouco habitados, criando sistemas de autosubsistência energética e alimentar.
3- Os mais pobres vão começar (estão) a morrer aos milhões de fome, de doença, e causas ambientais. As alterações climáticas vão acelerar todo o processo.
Digo-te isto: o colapso está iminente . Porém, o homem também existe à superfície do planeta há muito pouco tempo. Logo, tudo é relativo. Iminente pode significar daqui a dez anos ou daqui a 50, mas vai acontecer. A grande maioria das pessoas vai enquadrar-se no ponto 1- porque têm talas como os burros. Estão demasiado condicionadas e adormecidas pela necessidade de sobrevivência. Não te quero desiludir mas a minha convicção é que não vai ser fácil, como nada foi na história da humanidade. Mas do caos nasce a luz. E desta vez acredito que, se formos capazes de salvar o clima e a nós prórprios, a luz será intensa e duradoura. A humanidade vai conhecer estados de evolução nunca vistos e com grande sentido de humanismo.

Entretanto, concordo contigo quando dizes que não deves ser cego ao ponto de seguires a sandália. Nada disso. Deves fazer o que estás a fazer e dou-te os meus parabéns por isso: ouvir, ler, estudar, e formular a tua convicção. Qualquer que ela seja, desde que seja para o bem comum e despida de interesses pessoais egocêntricos, é positiva e contribui com mais um passo no bom sentido.

Outra coisa boa que teve o facto de me pedires opinião é que me colocou, também, a pensar. E isso é muito estimulante.

Está sempre atento. E conta comigo sempre.

Zeitgeist"

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