segunda-feira, 4 de março de 2013

Está um dia cinzento, chove ininterruptamente desde madrugada. Estou sentado no meu escritório, olhos no teclado e no monitor. Não sinto a chuva, apenas a oiço. Não sinto o frio que está lá fora, apenas o desconforto de um dia cinzento. Oiço um album de Laurie Anderson nas minhas colunas Celestion. Penso que não sou feliz. O que me falta, afinal? Na sexta-feira passada fui cumprir com o que acho ser a minha obrigação para com aqueles que não têm o que eu tenho e me deixa infeliz. Em Arroios, frente à igreja diariamente se alinham seres que nada têm. Todos com histórias de vida como a nossa. A nossa custa-nos tanto, por vezes, não é? Pergunto-me frequentemente como seria se não tivesse um teto, um lar. Se me visse privado das minhas colunas Celestion, de disfrutar da lareira com a minha família nestes dias frios. Privado de conviver com o meu filho e mulher... Continua a chover lá fora. Nesta sexta-feira não chovia, fazia frio. As refeições não chegaram para a rota. Alguns ficaram sem comer e contavam connosco. Custa-me não poder chegar a todo o lado.
Soube que três pessoas sem abrigo haviam morrido. Um morreu de frio e congelou sobre o colchão de cartões que constituíam a sua cama, o outro não me recordo porquê nem como. Não porque não me tenha importado mas a visão de alguém morrer congelado, na rua, sozinho ofuscou-me a capacidade de absorver toda a nformação... A outra morte foi a que mais me chocou. Era uma mulher forte de origem africana. Durante muito tempo não compreendi que não falava português pois não dizia uma única palavra, apenas sons mal articulados e sem forma reconhecível. Era imigrante. Imigrou em busca de uma vida melhor que a que tinha na sua terra natal, certamente. Em África as mulheres não têm vida fácil. O que encontrou foi uma terra nova na qual o único refúgio que encontrou estava nos pacotes tetrapack de vinho barato pois o pouco que conseguia sacar não dava para mais. Andava permanentemente embriagada. Não andamos todos? Uns pela alquimia de uma sociedade de consumo, outros por caírem no mais baixo da existência humana sem saída que não seja o esquecimento. Arranjava frequentemente problemas entre os seus pares, os sem-abrigo quero dizer, pois seus pares somos todos mas preferimos fechar os olhos. Assim não doi! Foi encontrada na rua despida e estrangulada, vítima de violação...
 
A notícia desta morte custou-me particularmente. Conhecia-a. A última vez que estive com ela fiz com que fosse levantada do banco onde colocamos as caixas térmicas das refeições. Sentou-se no chão, melhor, sentaram-na pois não se aguentava em pé, e demos-lhe a sua refeição. Acabou por se deitar no chão. Havia atingido o ponto mais baixo. Pobre mulher! Estendia-me a mão sem emitir uma palavra, suplicava por uma refeição que já lhe havia dado, os olhos inchados numa cara deformada pelo sofrimento e pela embriaguez. Dizia-lhe que já lhe havia dado a refeição e que não podia dar-lhe outra. Acabei por solicitar que me dessem a refeição que lhe tinha dado e que ela de forma persistente ignorava para que lha desse de novo. Podia ser que ela aceitasse e se consolasse. Mas não. Pergunto-me se por trás daquela súplica não estaria desesperadamente a pedir socorro, que a libetasse do sofrimento... não sei. Nunca o irei saber mas, hoje, neste dia de chuva, recordo-me dela com a compaixão que acho não ter tido quando precisou. peço-lhe desculpa mentalmente na esperança de que oiça e me perdoe por não ter sabido/querido/podido ajudá-la quando precisou. Grace era o seu nome. Teve uma morte que ninguém devia alguma vez suportar.
Repito para mim que faço o que posso, o que sei e acabo por chegar à conclusão que faço pouco e não sei nada!
 
Que todos os seres possam ser felizes e conhecer a causa da felicidade,
Possam todos ser livres do sofrimento e da causa do sofrimento,
Que nunca se separem da felicidade que é ausente de sofrimento,
Possam todos permanecer na incumensurável equanimidade que é livre de apego aos próximos e ódio aos outros!
 
Om Mani Padme Hung

segunda-feira, 23 de abril de 2012

O passamento de Kyabje Tenga Rinpoche

Sem comentários desnecessários faço aqui a homenagem a um grande mestre da escola Nyingma. Recebi as transmissões iniciais deste mestre na sua única visita a Portugal. Que possa ele voltar para nós muito em breve para continuar a auxiliar-nos a encontrar e enveredar pela via do grande veículo.
Om Mani Padme Hung Hri

The passing of Kyabje Tenga Rinpoche from Benchen Monastery on Vimeo.
Possam todos os seres conhecer a felcicidade e a causa da felicidade
Possam ser livres do sofrimento e da causa do sofrimento
Possam nunca se separar da felicidade que é livre de sofrimento
Possam todos repousar na incumensurável equanimidade que é apego aos próximos e ódio aos outros.

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

The story of too many stuff we're doing wrong

Tenho acompanhado o Story of Stuff Project de Annie Leonard faz algum tempo. Este projecto tem uma forte componente intervencionista na sociedade norte americana e mundial - nos dias que correm torna-se difícil perceber onde termina uma e começa a outra!
Periodicamente publica uns vídeos de animação que, de forma muito directa e divertida, utilizando uma banda desenhada rudimentar, como se de uma criança se tratasse, nos conta a verdadeira face das coisas que nos afetam directamente. 

Hoje, por ocasião do lançamento do novo projecto de animação intitulado The Story of Broke (porque é que este nome me soa tão familiar?!) resolvi colocar aqui toda a colecção de filmes já produzidos pelo projecto para a posteridade.  

Por uma sociedade mais equânime, justa e livre!

O primeiro: The Story of Stuff - Dezembro de 2007


O segundo: The Story of Cap & Trade - Dezembro de 2009
Lembram-se, certamente, desta proposta que não veio contribuir para a redução das emições de gases de efeito de estufa - como se propunha aparentemente, mas antes torná-lo em mais um negócio (como se propunha realmente). Se queres continuar a poluir acima da quota a que tens direito podes comprar partes de quotas de outros paízes. Fantástico, melga!



O terceiro: The Story of Bottled Water - Março de 2010
As pessoas em geral estão completamente alheias ao problema das garrafinhas de plástico e o impacto ambiental e na saúde que respresentam. Este filme esclarece:



O quarto: The Story of Cosmetics - Julho de 2010
Cada vez está melhor! Então nem uma maquilhagenzinha? Veneno, minhas amigas, veneno. E os nossos co-habitantes desta rocha perdida no espaço a sofrer. Já alguma vez pensaram na origem componentes dos cosméticos? E como são testados antes de aprovados para uso humano? Pois...


O quinto: The Story of Electronics - Novembro de 2010
Electrónica, o sucesso do século XXI! O problema é que os componentes são concebidos para serem precocemente percíveis, mantendo assim toda uma indústria. Money makes the worl go around!


Aguardamos o teu The Story of Broke pois estamos ansiosos por saber porque e que afinal é tudo mentira!

Até breve, pessoal!







segunda-feira, 20 de junho de 2011

Por um novo paradigma mental, ético e civilizacional

Caríssimos, incluso moi memme!

Hoje recebi o artigo que publico aqui na íntegra por todo ele ser deveras importante e um bom abre-consciências. Além do mais é tudo o que defendo. Apesar de não ser íntimo do Paulo Borges - autor -, partilhamos algumas coisinhas em termos de ideais, particularmente a noção de premência de uma mudança de paradigma mental, ético e civilizacional.

E, sem mais, passo ao artigo:

Vivemos hoje uma profunda crise do paradigma antropocêntrico que dominou a humanidade europeia-ocidental e se mundializou: nele o homem vê-se como centro e dono do mundo, reduzindo a natureza e os seres vivos a objectos desprovidos de valor intrínseco, como meros meios destinados a servir os fins e interesses humanos [1]. Se o surgimento da ciência e da tecnologia moderna obedeceu, sobretudo após as duas Revoluções Industriais, à crença no progresso geral da humanidade mediante o domínio da natureza e a exploração ilimitada dos seus recursos, incluindo os seres vivos, vive-se hoje a frustração dessa expectativa de um Paraíso terreno científico-tecnológico e económico: o sonho comum aos projectos liberais e socialistas converteu-se no pesadelo da persistente guerra, fome e pobreza, da crise económico-financeira, da destruição da biodiversidade, do sofrimento humano e animal e da iminência de colapso ecológico. Muitos relatórios científicos mostram o tremendo impacte que o actual modelo de crescimento económico tem sobre a biosfera planetária, acelerando a sexta extinção em massa do Holoceno, com uma redução drástica da biodiversidade, sobretudo nos últimos 50 anos, a um ritmo que pode chegar a 140 000 espécies de plantas e animais por ano, devido a causas humanas: destruição de florestas e outros habitats, caça e pesca, introdução de espécies não-nativas, poluição e mudanças de clima [2].



Manifestação particularmente violenta do antropocentrismo tem sido o especismo, preconceito pelo qual o homem discrimina os membros de outras espécies animais por serem diferentes e vulneráveis, mediante um critério baseado no tipo de inteligência que possuem que ignora a sua comum capacidade de sentirem dor e prazer físicos e psicológicos (a senciência, ou seja, a sensibilidade e o sentimento conscientes de si, distinto da sensitividade das plantas) ou o serem sujeitos-de-uma-vida, consoante as perspectivas de Peter Singer e Tom Regan [3]. A exploração ilimitada de recursos naturais finitos e dos animais não-humanos para fins alimentares, (pseudo-)científicos, de trabalho, vestuário e divertimento, tem causado um grande desequilíbrio ecológico e um enorme sofrimento. O especismo é afim a todas as formas de discriminação e opressão do homem pelo homem, como o sexismo, o racismo e o esclavagismo, embora sem o reconhecimento e combate de que estas têm sido alvo.



A desconsideração ética do mundo natural e da vida animal não só obsta à evolução moral da humanidade como também a lesa, lesando o planeta, como é particularmente evidente nos efeitos do consumo de carne industrial. Além do sofrimento dos animais, criados artificialmente em autênticos campos de concentração [4], além da nocividade da sua carne, saturada de antibióticos e hormonas de crescimento [5], a pecuária intensiva é um mau negócio com um tremendo impacte ecológico: a produção de 1 kg de carne de vaca liberta mais gases com efeito de estufa do que conduzir um carro e deixar todas as luzes de casa ligadas durante 3 dias, consome 13-15 kg de cereais/leguminosas e 15 000 litros de água potável, cuja escassez já causa 1.6 milhões de mortes por ano e novos ciclos bélicos (http://www.ambienteonline.pt/noticias/detalhes.php?id=7788); a pecuária intensiva é responsável por 18% da emissão de gases com efeito de estufa a nível mundial, como o metano, emitido pelo gado bovino, que contribui para o aquecimento global 23 vezes mais do que o dióxido de carbono; 70% do solo agrícola mundial destina-se a alimentar gado e 70% da desflorestação da selva amazónica deve-se à criação de pastagens e cultivo de soja para o alimentar; entre outros índices, destaque-se que toda a proteína vegetal hoje produzida no mundo para alimentar animais para consumo humano poderia nutrir directamente 2 000 milhões de pessoas, um terço da população mundial, enquanto 1 000 milhões padecem fome [6]. Isto leva a ONU a considerar urgente uma dieta sem carne nem lacticínios para alimentar de forma sustentável uma população que deve atingir os 9.1 biliões em 2050 [7].



Compreende-se assim a urgência de um novo paradigma mental, ético e civilizacional que veja que as agressões aos animais e à natureza são agressões da humanidade a si mesma, que não separe as causas humanitária, animal e ecológica e que reconheça um valor intrínseco e não apenas instrumental aos seres sencientes e ao mundo natural, consagrando juridicamente o direito dos primeiros à vida e ao bem-estar e o do segundo à preservação e integridade (no que respeita aos animais, Portugal possui um dos Códigos Civis mais atrasados, considerando-os meras coisas, o que urge alterar) [8]. Sem este novo paradigma, de uma nova humanidade, não antropocêntrica, em que o homem seja responsável pelo bem de tudo e de todos [9], não parece viável haver futuro.





[1] Kant considera o homem o “senhor da natureza”, que tem nele o seu “fim último” – Critique de la faculté de juger, 83, Paris, Vrin, 1982. O mesmo autor considera que os animais “não têm consciência de si mesmos e não são, por conseguinte, senão meios em vista de um fim. Esse fim é o homem”, que não tem “nenhum dever imediato para com eles” – Leçons d’éthique, Paris, LGF, 1997, p.391.

[2] Peter Raven escreve no Atlas of Population and Environment: "Impulsionamos a taxa de extinção biológica, a perda permanente de espécies, até centenas de vezes acima dos níveis históricos, e há a ameaça da perda da maioria de todas as espécies no fim do século XXI”. A equipa internacional liderada pelo biólogo Miguel Araújo, da Universidade de Évora, publicou recentemente um importante artigo na revista Nature sobre as consequências na “árvore da vida” das mutações climáticas antropogénicas: http://www.nature.com/nature/journal/v470/n7335/full/nature09705.html

[3] Cf. Peter Singer, Libertação Animal [1975], Porto, Via Óptima, 2008; Tom Regan, The Case for Animal Rights [1983], Berkeley, University of California Press, 2004, 3ª edição. Peter Singer segue a perspectiva utilitarista herdada de Jeremy Bentham e baseia-se na igualdade de interesses dos animais humanos e não-humanos em experimentarem o prazer e evitarem a dor, enquanto Tom Regan estende a muitos dos animais não-humanos a perspectiva deontológica de Kant, considerando-os indivíduos com identidade, iniciativas e objectivos e assim com direitos intrínsecos à vida, à liberdade e integridade. Cf. Os animais têm direitos? Perspectivas e argumentos, introd., org. e trad. de Pedro Galvão, Lisboa, Dinalivro, 2011.

[4] Cf. Peter Singer, Libertação Animal; Jonathan S. Foer, Comer Animais [2009], Lisboa, Bertrand, 2010.

[5] Segundo a Organização Mundial de Saúde, mais de 75% das doenças mais mortais nos países industrializados advêm do consumo de carne.

[6] Cf. um relatório de 2006 da FAO, Food and Agriculture Organization, da ONU, Livestock’s Long Shadow: environmental issues and options: http://www.fao.org/docrep/010/a0701e/a0701e00.HTM

[7] http://www.guardian.co.uk/environment/2010/jun/02/un-report-meat-free-diet

[8] Para uma introdução às diferentes perspectivas e questões éticas e jurídicas relacionadas com a natureza e os animais, cf. Fernando Araújo, A Hora dos Direitos dos Animais, Coimbra, Almedina, 2003; Maria José Varandas, Ambiente. Uma Questão de Ética, Lisboa, Esfera do Caos, 2009; Stéphane Ferret, Deepwater Horizon. Éthique de la Nature et Philosophie de la Crise Écologique, Paris, Seuil, 2011.

[9] Cf. Hans Jonas, Das Prinzip Verantwortung, Frankfurt am Mein, Insel Verlag, 1979.

Pois é! Alguns dirão: Oh! nem pensar. Isso é irreal, as coisas não são bem assim... A esses direi apenas, boa sorte! Aos que acharem que está aqui um bom mote para reflexão, pesquisa e tomada de acção direi que a dificuldade está unicamente nas nossas mentes, directamente relaccionada com os condicionamentos de que fomos vítimas desde tenra idade. Para nos livrarmos deles basta que comecemos por aplicar uns antídotos ao nosso dia-a-dia e que os passemos aos nossos filhos. Eles são 5:

1- Não matar (nenhum ser vivo);
2- Não mentir (em circunstância alguma);
3- Não roubar (nunca);
4- Não ter práticas sexuais que desrespeitem o próximo ou a nós mesmos;
5- Não intoxicar o corpo com drogas (de nenhuma espécie, não apenas as ilegais).

Estes são preceitos de ética que, aplicados nas nossas vidas mudam sociedades inteiras e não constituem própriamente um código legal complexo, repleto de alíneas e excepções. Na verdade são o oposto. São a simplicidade em si.

Mas não se iludam os incautos porque colocá-los em prática é de extrema dificuldade porém, os benefícios resultantes são extremamente gratificantes. A primeira regra é não ficar à espera que os outros tomem a iniciativa. Lá porque vivemos em sociedade não somos propriamente seres gregários, temos individualidade ao pondo te poder discernir sem depender de ninguém.

Beijinhos e tenham bom coração. 

terça-feira, 3 de maio de 2011

Matrix strikes back

Hoje acordei com a notícia de que Bin Laden havia sido morto por uma força de intervenção especial dos Estados Unidos. Os americanos vieram para as ruas festejar e dar vivas pela morte de tão odiado inimigo. Apesar de ser cedo e ainda estar meio aturdido por uma noite de sono irregular não pude deixar de pensar: que estúpidos os americanos! Não tenho nada contra o povo americano como não tenho nada contra nenhum povo ao cimo do planeta. Mas, ao fim destes anos todos, ainda acreditarem no Pai Natal...sinceramente!

O PAI NATAL FOI UMA CRIAÇÃO DA COCA-COLA! Não percebem? é preciso que vos faça um desenho?

Bom, agora a sério: várias são as considerações que me ocorre fazer.

1- Em primeiro lugar acho de uma falta de instrução de uma grande desumanidade celebrar a morte seja de quem for, por muito mau que acreditemos tenha sido. Entenda-se a morte não natural. Uma morte natural em certas culturas é celebrada, e isso eu compreendo muito bem e até me revejo em tal, pois o que se celebra é a passagem deste plano para outro que se acredita ser superior ou, pelo menos, uma passagem intermédia para um novo retorno. 
Porém, celebrar o assassinato de alguém é das coisas mais execráveis que posso imaginar.

Imaginemos o seguinte cenário: alguém nos mata um filho ou um pai ou mãe, enfim, alguém que nos é profundamente querido ou alguém por quem nutrimos simplesmente alguma empatia. A próxima coisa que vimos é uma multidão a celebrar com exuberância a sua morte. Qual será o sentimento que vos assalta? Talvez repulsa, aversão, revolta, raiva, ódio, até?   
Sei que se fosse muçulmano e nutrisse algum rancor para com o demo (não necessito explicar quem representa o demo, pois não?) me revoltaria e talvez me apetecesse fazer ainda mais estragos! O que quero dizer com isto é que a violência gera violência, o ódio gera ódio e nada mais se pode esperar destes sentimentos nefastos que o prolongamento do sofrimento e da guerra santa que é alimentada desta mesma forma há mias de 500 anos. Que se espera, portanto, de uma notícia destas?
Por outro lado, amor gera amor e compaixão gera compaixão. Estes são sentimentos muito mais nobres e elevados que constroem uma sociedade global equânime e justa. Esta insistência em cultivar o ódio pelos outros tem um objectivo muito claro: dividir para reinar. Enquanto houver ódio haverá guerra, enquanto houver guerra, haverá industria bélica; enquanto existir ódio, haverá justificação para se cometerem as maiores atrocidades para garantir o poder e o controlo dos recursos. Desenganem-se aqueles que pensam que só se alimenta o ódio pelos que estão no outro lado do globo. Por acaso não se fomenta o ódio pelos nossos concidadãos? Pensem bem! Estimula-se a concorrência, cria-se a escassez de recursos, de emprego, etc. Para quê? Deixo esta pergunta no ar como mote para reflexão.

2- Parece que certas pessoas no planeta (mas só algumas!) têm a capacidade de morrer duas vezes sem nascer pelo meio! É um fenómeno raro mas que começa a acontecer no século XXI. Observe-se o seguinte: em 2007 Osama Bin Laden foi assassinado por alguém, um tal de Omar Sheikh. Se este acontecimento é verdadeiro ou não nunca o iremos saber. Até porque hoje morreu de novo! No entanto, nada nos pode impedir de começar a colocar perguntas para as quais provavelmente nunca iremos obter resposta. No entanto, as perguntas devem ser colocadas e as respostas devem ser procuradas!
Nesta entrevista, Benazir Buthu (que Deus tem) deixa escapar a morte de Osama. Vejam:


"...and he also has dealings with Omar Sheikh, the man who murdered Osama Bin Laden.(...)"

No mínimo é estranho que a BBC tenha manipulado a entrevista por forma a omitir esta referência, não vos parece? Porquê omitir este facto em 2007? Não sei se se recordam mas havia necessidade de justificar uma guerra no Afeganistão e outra no Iraque e a presença de Bin Laden como pano de fundo era fundamental para justificar perante o mundo e o povo americano os fundos astronómicos dispendidos neste esforço de guerra ao terrorismo. Estabelecer a hegemonia americana no terreno do Médio Oriente e garantir o fluxo do petrólio de forma a poder garantir e controlar o abastecimento mundial e, assim, os preços.

3- Ora se o senhor existe ou existiu e acaso tenha morrido hoje porquê publicar à pressa uma manipulação de uma foto antiga dele para mostrar ao mundo? Porque é que os media não tiveram acesso a mais dados ou fotos do acontecimento? Finalmente porque fazer um funeral no mar (de acordo com os preceitos muçulmanos? Duvido sériamente, se é que houve funeral, se é que havia cadáver para descartar!) ao cadáver de Bin Laden? Funeral no mar a um habitante do deserto e segundo preceitos muçulmanos? Bom! Os muçulmanos também tinham e têm marinheiros, é verdade, mas nenhum deles faz regularmente serviço nos navios de guerra norte-americanos. Se realmente esta morte fosse factual, o cadáver não seria largamente mostrado ao mundo? Não é preciso ser antropólogo para saber que os troféus das grandes vitórias são exibidos em ostentação da vitória para demosntrar a superioridade dos conquistadores. Sempre assim foi e será, pelo menos enquanto nos guiarmos pelo primarismo que nos caracteriza. Porque fazer tudo para o esconder numa grande vitória sobre o terrorismo?
A publicação de uma mera foto apressadamente manipulada é indiciadora de que esta história está muito mal contada.

Esta montagem comparativa foi publicada no jornal Público online. O link é este:

Mesmo não sendo bom observador se percebe desde logo que o corpo por trás da cabeça não pertence à cabeça e que o esgar da boca não é próprio de alguém que está morto com um tiro na cabeça e outro, certamente, no coração. Será de alguém que bem vivo foi apanhado num instantâneo como na foto da esquerda, a original. Além disso Bin Laden devia pintar madeixas na barba pois mantém exactamente a mesma quantidade de pêlos brancos na barba que há anos atrás, ou então a idade não pegou com ele!
As semelhanças entre as duas fotos são tantas que é óbvio que este trabalho foi feito para quem acredita piamente no que é divulgado nos media e para quem aguardava este momento com ansiedade. É óbvio que esta manipulação de fraca qualidade foi feita para massas cegas, manipuladas e fanatizadas.

Conclusão:

Parece-me evidente que, com eleições à porta e a economia americana em risco, Obama necessitava de algo que por um lado estimulasse a economia para o deixar bem visto e às suas políticas de reforma da economia face a um eleitorado desiludido que deixava margem a que os republicanos ganhassem terreno, por outro lhe lavasse a face perante guerras que ele não consegue terminar conforme prometeu. A morte de Osama Bin Laden, anteriormente omitida para garantir o esforço bélico, tornou-se agora uma necessidade para a sua manutenção e para a retoma económica. Aliás, esse facto foi de imediato notado na bolsa.

Os indícios de uma morte forjada parecem-me muito claros. Só não os vê quem não quer ver ou prefere acreditar no Pai Natal!

Por outro lado, este acontecimento teve a valia de estimular de novo o medo terrorista numa trama que vem sendo arquitectada há pelo menos 60 anos. Antigamente eram os soviéticos, hoje é o terrorismo. Este segundo inimigo é muito melhor porque não tem rosto. Melhor, tinha um rosto, agora mataram-no! O terrorismo não está radicano na URSS ou em Cuba, está por todo o lado. Os nossos vizinhos têm um olhar estranho ou a tez escura, usam barba ou turbante. Ontem vi um a fumar cachimbo! Será uma célula?
Este medo implantado explora de forma muito cirurgica (termo na moda e muito preciso) os monstros do nosso Id, ou seja, o medo de perder a casa, o emprego, a comida, a liberdade, a vida. E ao fazê-lo deixa-nos vulneráveis aos verdadeiros ataques  perpetrados pelos nossos governantes e pela corporocracia que os manipula a eles. O terrorismo é um monstro criado para nos privar da liberdade em nome da segurança (lar, emprego, vida,...), a crise (escassez) é um monstro criado para que abdiquemos dos nossos direitos e nos deixemos escravizar por pão e, finalmente, a doença (quem não se lembra do H1N1) é um monstro para nos controlar. Recordam-se dos chips que nos quiseram implantar? Houve quem achasse muito bem. Mas será que andamos todos adormecidos?

Este episódio é apenas mais um numa lista que já vai longa e não será, certamente, o último. Uma coisa é certa, manter os amigos próximos e os inimigos ainda mais próximos é saudável e seguro. Não acreditem no que vos entra pela casa através dos media. Vão à internet e procurem nos meios de informação independentes, nos foruns, nos blogs, informação alternativa. Se optarem por ver os jornais (ou ler) procurem perceber o que não está escrito, detectem as discrepâncias. Façam leituras cruzadas. Oiçam todas as perspectivas e não deixem de acreditar só porque vos parece inapropriado. Acima de tudo, pensem por vós próprios. O Pai Natal é uma criação da Coca-Cola e rende ainda hoje milhões e nós injectamos esse mito nos nossos filhos a perpetuar uma de muitas farças e assim os começamos a programar para aceitar o inaceitável!

Estejam sempre alerta!


I am gross and perverted


Im obsessed n deranged

I have existed for years

But very little had changed

I am the tool of the government

And industry too

For I am destined to rule

And regulate you



I may be vile and pernicious

But you can't look away

I make you think Im delicious

With the stuff that I say

I am the best you can get

Have you guessed me yet?

I am the slime oozin out

From your tv set



You will obey me while I lead you

And eat the garbage that I feed you

Until the day that we don't need you

Don't got for help...no one will heed you

Your mind is totally controlled

It has been stuffed into my mold

And you will do as you are told

Until the rights to you are sold



That's right, folks..

Don't touch that dial



Well, I am the slime from your video

Oozin along on your livinroom floor



I am the slime from your video

Cant stop the slime, people, look at me go

Frank Zappa

sexta-feira, 15 de abril de 2011

Encarar a realidade nacional

Vivemos uma época extremamente difícil criada pelos homens que temos colocado ao leme desta casca de nós à beira mar plantada que, qual "jangada de pedra", anda à deriva pelos mares da dívida e com vários rombos que todos vamos ter de tapar para não nos afundarmos. Sendo certo que nunca nos afundaremos totalmente, deixar-nos-ão a cabecinha de fora para vivermos o suficiente para saldar a dívida criada por incompetência, o sofrimento, privações e até, quiçá o ascetismo e a extrema pobreza vão bater à porta de muitos de nós.
É altura de acordar, o futuro joga-se agora, e colocar a classe política na linha da ética e da moral ou de baixar os braços para sempre e deixar andar. Por mim, baixar os braços nunca foi uma hipótese a encarar. Temos de ser realistas, aceitar o que temos e lutar por um futuro melhor, TODOS. Ao contrário do que nos fazem acreditar, os nossos vizinhos, colegas de trabalho e emigrantes não são o nosso inimigo, são o ombro em que nos devemos apoiar quando precisarmos ganhar fólego para a próxima etapa. Vivemos na mesma nação, no mesmo continente, no mesmo mundo e, por isso, estamos interconectados e interdependentes. Dêmos, então, as mãos e avancemos rumo a um futuro que teremos de construir. Não nos será dado de bandeja. Nunca deveríamos ter acreditado que a vida melhoraria sem o nosso empenho e esforço, individual e colectivo. Quantos de nós deixaram de votar por desacreditar? O voto, além de um direito e dever é uma arma que deve ser bem utilizada no momento certo!
Portanto, amigos, paremos de nos lamentar e atirar a culpa para ELES (leia-se os políticos) porque ELES não são mais que o espelho onde nos miramos, e passemos à pró-actividade e lutemos por um país que, gostemos ou não, é o nosso e tem um passado (por vezes duvidoso) que merece ser defendido e projectado no futuro.

E mais não digo pois não mais me calaria! Nas próximas linhas transcrevo uma nota do Instituto da Democracia Portuguesa que recebi agorinha mesmo e que achei dever partilhar porque subscrevo na íntegra.

Até sempre.

No dia em que o Governo demissionário decidiu dirigir à Comissão Europeia um pedido de assistência financeira para atender ao “financiamento da República”, considera o Instituto da Democracia portuguesa (IDP) que chegou o momento para se encarar o médio prazo, para além do ruído de fundo com o curto prazo.

O resgate é um dado adquirido não apenas porque a nossa situação financeira é grave como porque estamos em risco de sermos um elemento pernicioso para a estabilidade da zona euro. Embora as atenções dos portugueses estejam focadas, essa operação de resgate terá um prazo e um objectivo: evitar um desequilíbrio grave na zona euro. O facto de, neste processo ser Portugal o país a ser ajudado é instrumental. No fim de contas, prevalecerão os interesses globais da zona euro como um todo.

Portugal experimenta há mais de trinta anos, uma perda de competitividade traduzida na lenta diminuição das suas taxas de crescimento. Apesar de todas as vultuosas transferências recebidas – fundos comunitários, remessas de emigrantes e investimento estrangeiro – a taxa de crescimento da economia portuguesa tem vindo a decair, sempre. Sucessivos governos e sucessivas políticas públicas centradas no “big is beautiful” esqueceram o apoio à produção de bens transaccionáveis com alta incorporação de mais valias e potencialidades de exportação.

A crise actual e o nosso elevado endividamento externo são o corolário de políticas da III República que nunca manifestaram interesse em atacar os problemas de frente; antes preferiram iludi-los, por motivos de ganância pessoal e interesses mal informados.

Ao cabo de mais de uma década de endividamento explosivo, temos de constatar que esgotámos um modelo de desenvolvimento económico; hoje é por demais manifesto que este modelo não tem qualquer virtualidade e a manutenção deste caminho apenas nos conduz a um desastre nacional.

Neste quadro, a operação de resgate de que o pedido de que o pedido de assistência financeira é só o primeiro passo, permite colmatar um desequilíbrio e, sobretudo, evitar um desequilíbrio mais acentuado na zona euro. No entanto, falta criar condições de crescimento económico. Como o IDP já afirmou antes, o resgate é, sobretudo, uma operação de apoio ao euro, não directamente ao membro.

Para saber o que se vai passar a seguir, temos de olhar para longe. Nos últimos 30 anos, Portugal é um dos países da Europa que mais rapidamente baixou a sua taxa de natalidade. Em 2009 era o 2º país de EU com a mais baixa taxa de fertilidade: 1.3. Em 2009 e 2010, o número de mortes superou os nascimentos. Há mais de uma década que se chama a atenção para o “Inverno” demográfico, aparentemente com escasso eco na sociedade civil e sem eco nos meios políticos. Ao contrário de outros países europeus, não existe uma política de apoio e promoção da natalidade.

Em 2010 o ratio de pessoas activas/passivas foi de 1/1.5. A continuarem as tendências, em 2020 esse ratio será de 1/2 e, em 2030, terá passado para 1/2.5. Com um modelo económico esgotado, com taxas de crescimento progressivamente mais baixas, aumento do desemprego, envelhecimento da população e baixa fertilidade, aumentam os compromissos fixos e diminuem as receitas.

Assim , vem o IDP denunciar que, mais do que a “armadilha da dívida”, onde as políticas de contenção e austeridade terão um efeito recessivo na economia, estamos confrontados com a diminuição do principal recurso nacional- a população – e não o queremos admitir.

A nossa dívida externa bruta é hoje de +/- 230% do PIB e a líquida de quase 98%. As medidas de austeridade no quadro de um resgate permitem considerar que a nossa taxa de crescimento, nos próximos 10 anos, não deverá ser superior a 1.5% ao ano; ao mesmo tempo o serviço da dívida contraída está já próximo dos 5% do PIB.

Neste cenário, as nossas capacidades de endividamento no médio e longo prazo, a 10/ 30 anos, estão seriamente limitadas quer pelo baixo potencial de crescimento da economia, quer pela limitada capacidade do seu principal activo, nós, os cidadãos. Nesse sentido, considera o IDP que a nossa capacidade para poder honrar, nos termos e nas condições que nos propusemos pagar, estará, fortemente limitada.

Temos uma elevada probabilidade, a médio prazo, dentro de 4/5 anos, de estarmos a suportar uma política que não elimina a nossa dívida, e agrava as condições de podermos optimizar os nossos activos, para honrar a dívida e assegurar a sustentabilidade da economia e do país.

No actual quadro do debate de ideias e por força da crise imediata em que nos encontramos, todas as atenções estão centradas nas formas de “quebrar” o círculo vicioso que nos conduziu a esta situação; no entanto, essa premência obscurece um elemento fundamental: como vamos pagar a “montanha de dívida “que acumulámos ao longo destes anos e como o vamos pagar sem nos arruinarmos.

Considera o IDP que é necessário encarar com realismo a reestruturação da dívida nacional. Existem soluções estudadas para os problemas enumerados; sendo necessário tempo para as implementar, temos de partir para a reestruturação da dívida.

Uma nação não é uma empresa; não pode ser desmembrada e os seus activos disponibilizados livremente; os credores da nação preferem receber uma percentagem de algo a receber a totalidade de nada e nunca “asfixiarão” o devedor ao ponto de este ficar impedido de cumprir as suas obrigações.

A reestruturação de dívida soberana é um dos elementos que caracteriza a dívida; Portugal, enquanto nação autónoma, reestruturou seis vezes a dívida e, nos séc XX fizeram-no 21 países, entre os quais o Brasil.

A reestruturação da dívida – nos próximos meses – é uma operação de responsabilidade do próximo Governo e implica a apresentação de um plano de como e quando iremos pagar as nossas obrigações. Porque é uma operação da responsabilidade de todos os portugueses, o IDP alerta que deve ser partilhada por todos. Democracia, crescimento e equidade só serão possíveis simultaneamente com um regime cujas soluções estejam à altura da nossa história e da nossa cultura.

Lisboa, 6 de Abril de 2011

A Direcção do IDP

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Fome e guerra. Não são estes dois dos cavaleiros do apocalipse?

Este é um pequeno artigo publicado no site da TVI24 no âmbito de uma reportagem sobre os sem-abrigo na gare do Oriente que poderão ver aqui:
http://www.tvi24.iol.pt/sociedade/pobreza-crise-sem-abrigo-oriente-lisboa-tvi24--/1211567-4071.html

Gare do Oriente é casa de muitos sem-abrigo


São homens e mulheres que vivem à margem da sociedade e estiveram durante dois dias a viver paredes-meias com os homens e mulheres mais poderosos do mundo

Este é local de passagem de muitos durante o dia...e a casa de outros, apenas por algumas horas. À noite, a Gare do Oriente, em Lisboa, dá abrigo a homens e mulheres que vivem à margem da sociedade. Entre as 23h30 e as 06h00 dezenas de pessoas dormem ali.

Aqui cruzam-se histórias de vidas não vividas na plenitude, mas de vidas que procuram a sobrevivência, um dia de cada vez. O desemprego e a exclusão social levam para a rua todos os dias centenas de pessoas.

João Abrantes tem 38 anos. Há 5 que está na rua. Acredita que o álcool foi o pior caminho, agora resta-lhe a esperança.

Também Artur Freitas recebe com gratidão a refeição de todos os dias. A vida levou-o a ficar sozinho e com apenas com 156 euros mensais que recebe de França.

Resta-lhes a boa vontade de voluntários que lhes dão companhia e uma refeição quente.Uma realidade cruel que esteve lado a lado com a cimeira da NATO do passado fim-de-semana.

A Associação de Apoio ao Sem-abrigo tem um papel fundamental na vida destas pessoas. Fazem muito mais noutros locais da cidade de Lisboa e no resto do país. Um trabalho com poucos meios, mas de que se orgulham.

Eis o meu comentário:
Não admira, portanto, que convivam lado a lado num evento desta magnitude. O lamentável nisto tudo é que os governos hipocritamente dêem guarida aos cenários de previsão de conflitos. Os conflitos são estimulados por duas razões apenas: lobi da indústria de armamento e manutenção da hegemonia do petróleo. Quem controla os recursos controla o mundo. Desde o final da II guerra, iniciando-se com o plano Marshall que nos tornámos (Europa) marionetas dos EUA. A fome que grassa pelo mundo poderia ser eliminada numa única decisão histórica. desviar os fundos gastos em esforços de guerra para o combate à fome. A utilização de energias renováveis, abundantes é, por isso, mau negócio (porque são abundantes e estão disponiveis para todos), permitiria a canalização de fundos para a geração de uma sociedade justa em que todos pudessem viver em equanimidade. É tudo uma questão de consciência, conhecimento e vontade. Este é o mundo que temos porque é o mundo que criamos todos os dias.

Se todos tivessemos poder de compra não haveria negócio que não resultasse. Ou estarei enganado?