sexta-feira, 15 de abril de 2011

Encarar a realidade nacional

Vivemos uma época extremamente difícil criada pelos homens que temos colocado ao leme desta casca de nós à beira mar plantada que, qual "jangada de pedra", anda à deriva pelos mares da dívida e com vários rombos que todos vamos ter de tapar para não nos afundarmos. Sendo certo que nunca nos afundaremos totalmente, deixar-nos-ão a cabecinha de fora para vivermos o suficiente para saldar a dívida criada por incompetência, o sofrimento, privações e até, quiçá o ascetismo e a extrema pobreza vão bater à porta de muitos de nós.
É altura de acordar, o futuro joga-se agora, e colocar a classe política na linha da ética e da moral ou de baixar os braços para sempre e deixar andar. Por mim, baixar os braços nunca foi uma hipótese a encarar. Temos de ser realistas, aceitar o que temos e lutar por um futuro melhor, TODOS. Ao contrário do que nos fazem acreditar, os nossos vizinhos, colegas de trabalho e emigrantes não são o nosso inimigo, são o ombro em que nos devemos apoiar quando precisarmos ganhar fólego para a próxima etapa. Vivemos na mesma nação, no mesmo continente, no mesmo mundo e, por isso, estamos interconectados e interdependentes. Dêmos, então, as mãos e avancemos rumo a um futuro que teremos de construir. Não nos será dado de bandeja. Nunca deveríamos ter acreditado que a vida melhoraria sem o nosso empenho e esforço, individual e colectivo. Quantos de nós deixaram de votar por desacreditar? O voto, além de um direito e dever é uma arma que deve ser bem utilizada no momento certo!
Portanto, amigos, paremos de nos lamentar e atirar a culpa para ELES (leia-se os políticos) porque ELES não são mais que o espelho onde nos miramos, e passemos à pró-actividade e lutemos por um país que, gostemos ou não, é o nosso e tem um passado (por vezes duvidoso) que merece ser defendido e projectado no futuro.

E mais não digo pois não mais me calaria! Nas próximas linhas transcrevo uma nota do Instituto da Democracia Portuguesa que recebi agorinha mesmo e que achei dever partilhar porque subscrevo na íntegra.

Até sempre.

No dia em que o Governo demissionário decidiu dirigir à Comissão Europeia um pedido de assistência financeira para atender ao “financiamento da República”, considera o Instituto da Democracia portuguesa (IDP) que chegou o momento para se encarar o médio prazo, para além do ruído de fundo com o curto prazo.

O resgate é um dado adquirido não apenas porque a nossa situação financeira é grave como porque estamos em risco de sermos um elemento pernicioso para a estabilidade da zona euro. Embora as atenções dos portugueses estejam focadas, essa operação de resgate terá um prazo e um objectivo: evitar um desequilíbrio grave na zona euro. O facto de, neste processo ser Portugal o país a ser ajudado é instrumental. No fim de contas, prevalecerão os interesses globais da zona euro como um todo.

Portugal experimenta há mais de trinta anos, uma perda de competitividade traduzida na lenta diminuição das suas taxas de crescimento. Apesar de todas as vultuosas transferências recebidas – fundos comunitários, remessas de emigrantes e investimento estrangeiro – a taxa de crescimento da economia portuguesa tem vindo a decair, sempre. Sucessivos governos e sucessivas políticas públicas centradas no “big is beautiful” esqueceram o apoio à produção de bens transaccionáveis com alta incorporação de mais valias e potencialidades de exportação.

A crise actual e o nosso elevado endividamento externo são o corolário de políticas da III República que nunca manifestaram interesse em atacar os problemas de frente; antes preferiram iludi-los, por motivos de ganância pessoal e interesses mal informados.

Ao cabo de mais de uma década de endividamento explosivo, temos de constatar que esgotámos um modelo de desenvolvimento económico; hoje é por demais manifesto que este modelo não tem qualquer virtualidade e a manutenção deste caminho apenas nos conduz a um desastre nacional.

Neste quadro, a operação de resgate de que o pedido de que o pedido de assistência financeira é só o primeiro passo, permite colmatar um desequilíbrio e, sobretudo, evitar um desequilíbrio mais acentuado na zona euro. No entanto, falta criar condições de crescimento económico. Como o IDP já afirmou antes, o resgate é, sobretudo, uma operação de apoio ao euro, não directamente ao membro.

Para saber o que se vai passar a seguir, temos de olhar para longe. Nos últimos 30 anos, Portugal é um dos países da Europa que mais rapidamente baixou a sua taxa de natalidade. Em 2009 era o 2º país de EU com a mais baixa taxa de fertilidade: 1.3. Em 2009 e 2010, o número de mortes superou os nascimentos. Há mais de uma década que se chama a atenção para o “Inverno” demográfico, aparentemente com escasso eco na sociedade civil e sem eco nos meios políticos. Ao contrário de outros países europeus, não existe uma política de apoio e promoção da natalidade.

Em 2010 o ratio de pessoas activas/passivas foi de 1/1.5. A continuarem as tendências, em 2020 esse ratio será de 1/2 e, em 2030, terá passado para 1/2.5. Com um modelo económico esgotado, com taxas de crescimento progressivamente mais baixas, aumento do desemprego, envelhecimento da população e baixa fertilidade, aumentam os compromissos fixos e diminuem as receitas.

Assim , vem o IDP denunciar que, mais do que a “armadilha da dívida”, onde as políticas de contenção e austeridade terão um efeito recessivo na economia, estamos confrontados com a diminuição do principal recurso nacional- a população – e não o queremos admitir.

A nossa dívida externa bruta é hoje de +/- 230% do PIB e a líquida de quase 98%. As medidas de austeridade no quadro de um resgate permitem considerar que a nossa taxa de crescimento, nos próximos 10 anos, não deverá ser superior a 1.5% ao ano; ao mesmo tempo o serviço da dívida contraída está já próximo dos 5% do PIB.

Neste cenário, as nossas capacidades de endividamento no médio e longo prazo, a 10/ 30 anos, estão seriamente limitadas quer pelo baixo potencial de crescimento da economia, quer pela limitada capacidade do seu principal activo, nós, os cidadãos. Nesse sentido, considera o IDP que a nossa capacidade para poder honrar, nos termos e nas condições que nos propusemos pagar, estará, fortemente limitada.

Temos uma elevada probabilidade, a médio prazo, dentro de 4/5 anos, de estarmos a suportar uma política que não elimina a nossa dívida, e agrava as condições de podermos optimizar os nossos activos, para honrar a dívida e assegurar a sustentabilidade da economia e do país.

No actual quadro do debate de ideias e por força da crise imediata em que nos encontramos, todas as atenções estão centradas nas formas de “quebrar” o círculo vicioso que nos conduziu a esta situação; no entanto, essa premência obscurece um elemento fundamental: como vamos pagar a “montanha de dívida “que acumulámos ao longo destes anos e como o vamos pagar sem nos arruinarmos.

Considera o IDP que é necessário encarar com realismo a reestruturação da dívida nacional. Existem soluções estudadas para os problemas enumerados; sendo necessário tempo para as implementar, temos de partir para a reestruturação da dívida.

Uma nação não é uma empresa; não pode ser desmembrada e os seus activos disponibilizados livremente; os credores da nação preferem receber uma percentagem de algo a receber a totalidade de nada e nunca “asfixiarão” o devedor ao ponto de este ficar impedido de cumprir as suas obrigações.

A reestruturação de dívida soberana é um dos elementos que caracteriza a dívida; Portugal, enquanto nação autónoma, reestruturou seis vezes a dívida e, nos séc XX fizeram-no 21 países, entre os quais o Brasil.

A reestruturação da dívida – nos próximos meses – é uma operação de responsabilidade do próximo Governo e implica a apresentação de um plano de como e quando iremos pagar as nossas obrigações. Porque é uma operação da responsabilidade de todos os portugueses, o IDP alerta que deve ser partilhada por todos. Democracia, crescimento e equidade só serão possíveis simultaneamente com um regime cujas soluções estejam à altura da nossa história e da nossa cultura.

Lisboa, 6 de Abril de 2011

A Direcção do IDP

1 comentário:

  1. "ELES" também estão no mesmo barco que nós, são apenas marionetas que dão a cara pelos grandes senhores mundiais. Receio na minha humilde opinião que por muito bem intencionados que sejam as pessoas que estejam no poder nada possam fazer para libertar os seus países da malha financeira global... Somos nós que damos valor ao dinheiro no entanto somos escravos dele... A ironia disto tudo é perderem se vidas em nome do dinheiro e por falta dele...

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